sábado, 3 de março de 2018

Ato 018 – O brilho que desperta


Eram tempos difíceis, e a Terra (Sekai) sofria com os conflitos entre moradores e invasores vindos as águas de todas as partes do mundo. Dentre as áreas com protetores específicos havia as terras que margeavam o mar Mediterrâneo.

As hordas de marinas que adentravam o território eram repelidas por um imponente guerreiro, e seu nome era Teneo.

Ele aprendera a técnica da espada desembainhada que reúne ataque e defesa numa única prática. Sua velocidade era impressionante, e essa habilidade parecia ter sido herdada por sua filha Anna, e com a morte de Maria os laços de pai e filha só fizeram aumentar.

Anna acompanhava seu pai nos treinamentos que ele promovia junto aos moradores locais, mas não participava, pois Teneo não queria envolvê-la naquela guerra em curso sem previsão de final. Silenciosa ela observava e aprendia a teoria de tudo que era ensinado, e praticava em outros momentos escondida do pai.

Certo momento em meio ao treinamento de rotina, Mia, filha de artesãos de pesca locais, que acompanhava seus pais em tudo, demonstra a olhos mais apurados possuir habilidade especial. Teneo já havia ensinado sobre o cosmo e seu domínio, mas nem mesmo dentre os jovens rapazes (a maioria dos presentes) havia sido demonstrado tal desempenho naquele grupo.

Noir ficou muito feliz, pois sua filha poderia servir a Atena no futuro e ajudá-la a vencer aquela terrível guerra, mas Anna ficou triste. Ela estava ali há mais tempo que Mia, e ainda não havia conseguido avançar em direção a seu sonho de seguir os passos de seu pai como defensora das pessoas em nome de Atena.

Foi um breve lampejo de cosmo, mas forte o suficiente para a percepção de Teneo e Noir, um dos últimos sábios do local. Teneo ao olhar o semblante triste da filha percebeu que sua filha também tinha sentido o cosmo, mas isso não lhe causou espanto, pois sabia do seu potencial. O guerreiro considerava sua esposa Maria uma guerreira ainda mais formidável que ele, mas em outras circunstancias ela desaparecera da vila. O despertar do poder de Anna gerava a preocupação do pai, que prometera a si mesmo não lidar com mais perdas.

Mas o brilho do cosmo de Mia não foi percebido apenas por eles. Um outro alguém, um pouco mais distante, havia sentido o despertar da jovem.

Findo o treinamento, já era quase noite, quando os alertas de invasão foram soados. Era o sinal que novos monstros do mar chegaram a vila.

Todos se recolheram, e os homens e mulheres do campo de treinamento se prepararam para cobrir a retaguarda de Teneo, que novamente enfrentaria os guerreiros das águas. No time, cheia de confiança, estava Mia. Apesar do protesto de Noir, ele e Teneo não rejeitaram sua presença, mas o pai da jovem estava atento.

Próximo a barragem de pedra que separava o mar do continente estava Teneo, que percebe que a energia que chegava desta vez era muito mais intensa do que as vindas anteriormente. Temeroso pelo possível destino de todos, em caso de falha sua, ele sinaliza ao mensageiro o recolhimento do grupo de apoio. Ele enfrentaria sozinho o novo inimigo e o venceria, ainda que isso lhe custasse a vida.

O grande cosmoenergia se materializa, e uma armadura alaranjada trazia grande destaque. O guerreiro parecia ser de uma classe mais alta, ainda não vista por Teneo.

— Ora, ora. Comenta o visitante. — Deve ser aquele que tem posto medo em meus soldados. Teu cosmo me diz isso.

— Sou aquele que tem expulsado os invasores, só isso. Retruca o guerreiro de Atena — Sou Teneo. O guerreiro da armadura alanjadada tem nome?

O adversário de Teneo ri.

— Sou Kraig de Cavalo Marinho, General Marina guardião do Oceano Pacífico Norte, Elite do exército do Senhor dos Mares, Poseidon. Responde. — A “armadura alaranjada” chama-se “Escama’, a veste sagrada dos guerreiros guardiões do império dos mares. E contra mim você não tem a menor chance.

Teneo balança a cabeça em sinal negativo.

— Não subestime seu adversário, General Marina. Retruca. Não te ensinaram isso?

Teneo assume a posição de Iai, reunindo ataque e defesa, e em segundos Kraig é impactado a alguns metros para trás de sua posição. Na ótica de Kraig Teneo não saiu do lugar.

— Olha só. Ironiza Kraig. — Parece que tenho um adversário de valor e bem veloz. Mas ... é só isso?

— Estou apenas aquecendo. Brinca Teneo.

Surge no local mais uma energia, e o marina também percebe. Ele caminha para além de Teneo, que nada entende. Há alguns metros a frente Kraig com um movimento de mão derruba uma parede de pedra, e expõe quem atrás dela se escondia, a jovem Mia.

Mia aquece seu cosmo como há momentos atrás no treinamento, mas Kraig a pega pelo braço levantando-a e se divertindo.

A jovem sente o ar fluindo em sua volta, quando tudo cessa, e ela cai no chão. Ela se levanta e ao seu lado estava Anna. Ela parecia ter bloqueado a técnica do general marina. Teneo também estava no outro lado, mas Anna conseguira ser ainda mais rápida que seu pai.

— Ora, ora. Eis que surge o brilho que me chamou nesse lugar. Comenta o marina. — Venho aqui exclusivamente em busca desse cosmo. Meu Senhor Poseidon tem grande interesse nesse potencial.

— Mas não está disponível! Afirma Teneo que recua, afasta as jovens, empurra Kraig para trás e volta a estar frente a frente com o guerreiro de Poseidon.

O cosmo de Anna ainda resplandecia, e sua aura brilhava tal qual o touro furioso que partia de Teneo e o negro corvo mortal que outrora voava sob aquelas águas.

— E nossa luta nem começou. Comenta Teneo. — Esqueceu-se de seu adversário, por acaso?

Kraig ri.

— Não vim lutar. Responde. — Vim levar esse brilho para meu Senhor.

— Se for só isso, não será hoje. Firme retruca o guerreiro de Atena.

Teneo se posiciona, mas Kraig lhe viras as costas e segue de volta ao mar.

— Esse brilho será de meu Senhor! Decidido, informa o marina. — Retornarei em momento oportuno.

— Aguardarei seu retorno. Responde Teneo. — Estarei aqui.

O general marina volta ao mar, e Teneo fica pensativo sobre os planos de Poseidon para sua jovem.

Anna, agora em segurança, estava feliz por despertar a centelha do cosmo tão ensinada por seu pai, e tão treinada as escondidas. O que ela não entendia era o interesse de Kraig no poder de Mia, como lhe pareceu.

Teneu e Noir, que acabara de chegar, compartilhavam da preocupação de Anna com Mia, e estavam prontos para protegê-las a qualquer custo.

Passado algum tempo, novamente pairavam notícia ruins sobre a vila as margens do mar Mediterrâneo. Mia havia desaparecido sem rastros. A presença dos guerreiros do mar não foi registrada, e além da tristeza havia o mistério.

Teneo estava preocupado, pois acreditava saber o nome do responsável por aquele desaparecimento, e sua verdadeira intensão.

O guerreiro de Atena se concentra tentando localizar o cosmo da filha de sua filha, e o encontra no mesmo local onde enfrentara Kraig de Cavalo Marinho. Ele estava irritado, e seguiu até a barragem de pedras a beira mar.

— Por que demorou? Ironicamente recebe Kraig. — Pensei que levaria meus prêmios sem resistência. Elas parecem bem mais inofensivas hoje.

Anna estava ao lado de Mia, desmaiada, tentando defende-la. A jovem não conseguiu fazer brilhar seu cosmo como da última vez, mas sua determinação a destacava.

— Deixe as jovens. Firme ordena Teneo. — Suas contas são comigo.

— Já disse que é o brilho dessa jovem que me importa, ou melhor dessas jovens. Responde o marina. — Essas terras eu posso conquistar depois. Outras presenças brilhantes já foram recrutavam para Podeidon, mas essas jovens certamente terão um destino mais nobre em nosso exército.

Teneo empurra Kraig pressionando o peitoral de sua escama.

— Elas não estão disponíveis! Retruca.

Kraig se desvencilha do toque de Teneo, e seu semblante muda.

— Não pode se opor a vontade de Poseidon! Declara o general marina. — As levarei a qualquer custo. Ainda que tenha que se por cima de você.

Com um movimento de braço Teneo ordena que Anna e Mia sigam de volta ao interior da vila, onde Noir as estava esperando. O guerreiro sinaliza para o artesão confiando a ele sua filha. Ele se posiciona entre o general marina e sua filha que se vai mais atrás de Mia.

— Daqui você não passa. Afirma Teneo. — Volte para de onde veio, ou lute comigo. A decisão é tua.

Kraig balança a cabeça em sinal de desaprovação.

— Vou lutar contra você, e pegar minhas prendas. Retruca o marina. — Ela sequer tem cosmo para se defender, e o pessoal dessa vila é patético. Só preciso passar por você.

Com um movimento de mão Teneo convida o adversário para a luta, queimando seu cosmo. O general marina faz o mesmo.

Numa velocidade incrível, imperceptível a olhos comuns, e até mesmo ao olhar de Kraig Teneo parte para a investida contra a marina. Com seu ombro esquerdo ele empurra o adversário metros a frente, e afastando-se um pouco aplica diversos golpes, nos pontos chave da circulação de energia no corpo de Kraig. Ele recua, e numa fração de milissegundos estava com seu bloqueio pronto, aguardando o impacto da técnica do adversário.

Kraig de Cavalo Marinho apenas sentia o impacto, e se não fosse sua escama teria seus pontos vitais bloqueados. Teneo aparentemente sequer havia saído  do lugar.

A grande velocidade de Teneo impressiona o adversário, mas agora ele tinha uma estratégia para ver o que estava oculto.

— Venha guerreiro! Desafia o marina. — Quero saber até onde pode ir sua habilidade.

Kraig queima seu cosmo, e interagindo com as moléculas de ar cria correntes de vento assimétricas e multidirecionadas, causando um parcial bloqueio a grande velocidade de Teneo.

O marina agora via a chegada de Teneo, e após de preparar para o impacto, se esquiva de quase todos os golpes desferidos pelo guerreiro de Atena. Um ataque porém pareceu ter sido deixado por último, como se sincronizado a nova velocidade imposta por Kraig  A investida do punho acertou o lado esquerdo do peitoral, explodindo a escama e penetrando a carne.

Teneo inicia seu recuo, quando percebe a reordenação da direção dos ventos com um brutal aumento de velocidade, mudando o formato para um redemoinho. Sincronizado, o guerreiro sai do centro do turbilhão, seguindo a velocidade da periferia que também era gigantesca. Antes que perdesse a consciência ele sente as preces de Anna, e num último esforço se desconecta do redemoinho.

Kraig sente no último segundo de contato do vento com o corpo de Teneo uma assimetria no guerreiro de Atena.

Em queda livre Teneo beirava a inconsciência, mas se guiava pelo brilho do cosmo de Anna. Ele percebe que Kraig prepara sua investida, e metros antes de tocar o solo vê o punho esquerdo do marina recolhido e pronto para o ataque. Prestes a tocar o solo, ele estava debilitado pelo desgaste em sincronizar sua velocidade aos inconstantes ventos do general marina. Ainda dotado de grande velocidade, Teneo oferece o lado esquerdo do peito para o impacto.

O ataque fulminante de Kraig seria letal, mas o guerreiro de Atena usa seu corpo para prender o adversário a ele, e pela barriga do marina ele atinge o lado direito internamente, quebrando várias costelas no caminho.

Teneo compreendera que assim como ele Kraig tinha o coração no lado direito, e isso explicaria o marina ainda estar vivo após seu ataque fulminante.

Kraig percebera assimetria similar a sua em Teneo, mas não contava com a maior velocidade do adversário debilitado por seus intempestivos ventos. Ele caíra numa armadilha, e devido a precisão no ataque recebido era morte certa.

Os oponentes se desconectam e caem, com grande quantidade de sangue expelido por Kraig. O mar se agita, e uma grande onda cobre ambos, levando o general marina. Teneo olha para o mar e vê um soldado marina com seu general nos braços caindo nas águas. Anna vem em socorro de seu pai.

— Senti seu cosmo, minha querida. Carinhosamente acolhe Teneo a sua filha. — Fui guiado por seu brilho. Sua mãe ficaria orgulhosa.

— Eu sei. Responde a jovem, sorrindo. — Senti algo bom fluindo de você, pai. Ainda que não conseguisse vê-lo naquele redemoinho. Eu e Mia estávamos aqui o tempo inteiro.

Anna sorri, e abraça Mia que ali de pé observava. Teneo estava curioso com algo.

— Se estavam aqui, como conseguiram se esconder de mim e Kraig? Indaga.

As jovens se entreolham em cumplicidade.

— O brilho do cosmo de Mia de alguma forma nos ocultou. Responde. — Vimos o pai dela passar por nós sem nos perceber.

Naquele instante chega Noir e outros moradores da vila para ajudar a Teneo. Ele olha para Mia, com firmeza.

— Depois falamos!

— Sim, papai. Resignada responde Mia.

Noir olha para Teneo e confirma a informação.

— É verdade, não as vi em lugar algum, e por aqui não havia sinal de ninguém. É uma habilidade estranha.

Teneo ri.

— Também acho, Noir. Concorda Teneo. — Tenho certeza que será útil para Atena algum dia.

 O guerreiro tosse forte, e ao tocar o lado direito do peito de Teneo Noir certifica-se que o coração do guerreiro de Atena ainda estava forte. Anna nada entende.

— Por que toca o lado direito, Sr. Noir? Pergunta Anna confusa. — O coração está no lado esquerdo!

Noir olha para Teneo, com uma mensagem já conhecida, e ele sinaliza em sinal positivo.

— Minha filha. Inicia Teneo. — Tenho algo importante para te contar.

Ele conta de sua condição física especial, e da fragilidade de seu coração. Sua assimetria tinha sido seu trunfo, mas agora um grande guerreiro sabia de seu segredo.

Noir, que há anos cuidava da saúde de Teneo, temia por essa nova situação, e por fim podia provar a seu teimoso paciente que o esforço exagerado poderia parar seu órgão vital.

Teneo vencera dessa vez, mas o futuro era incerto, pois Kraig de Cavalo Marinho era um grande adversário.

Para Anna o desejo de ter seu cosmo brilhante e vibrante só aumentara, pois agora seu pai dependia dele.


A LUTA PELO BRILHO DE ANNA REVELA GRANDES VERDADES OCULTAS, E EM BREVE ATENA FARIA GRANDE USO DE TODAS ELAS.

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